POR UMA SAÚDE PÚBLICA HUMANA E DE QUALIDADE

09/10/2010 08:37

 

Por que a Saúde no Brasil precisa mudar?

 

Subsídios da Sociedade Brasileira de Cardiologia aos candidatos à Presidência da República


O aumento do número das Doenças Cardiovasculares (DCV) e do número de mortes que elas causam é registrado no mundo inteiro, mas o crescimento tem sido maior nos países em desenvolvimento e na América Latina. Os organismos internacionais afirmam que, entre todos os países, o Brasil é o que terá maior aumento das DCV até o ano de 2040, se não investir rapidamente em programas de prevenção e na melhoria do atendimento.

Hoje mesmo, o Brasil já ostenta o triste título de “campeão mundial” de internações por insuficiência cardíaca e essas internações têm um custo financeiro imenso para o governo e em vidas que são ceifadas. A outra consequência é a perda da força laborativa e os custos para a previdência social.

O Ministério da Saúde tem grande sucesso no tratamento das doenças infecciosas, como Febre Reumática, Doença de Chagas e AIDS, é eficaz igualmente nas campanhas de vacinação, mas o controle das doenças cardiovasculares ainda é uma verdadeira tragédia no Brasil.

O Brasil é campeão mundial de hospitalizações por insuficiência cardíaca e isso acontece por dois motivos básicos:

a) porque a maioria dos Postos de Saúde não recebe medicação específica para tratamento de insuficiência cardíaca.

b) porque, assim que a crise é debelada, o paciente recebe alta e volta para casa sem medicamentos e, principalmente, não há acompanhamento, o que faz com que logo tenha outra crise e retorne ao mesmo hospital.

Essa deficiência no binômio atendimento/prevenção encurta a vida dos pacientes, aumenta enormemente o gasto público e é a causa básica de o Brasil ter hoje 315 mil mortes anuais devido a doenças cardiovasculares.
 
Infelizmente, o que está posto para a insuficiência cardíaca é apenas um exemplo, que se repete no caso do infarto do miocárdio e do acidente vascular cerebral. Bem ou mal atendido, assim que melhora, o paciente recebe um aperto de mão e a informação: “O senhor está melhor, teve alta hospitalar e passe bem”. Não há acompanhamento do caso.

O problema da má gestão da Saúde Pública é decorrência do que o leigo chama de “o barato que sai caro”. Outro exemplo: o governo fornece stents para serem colocados dentro das artérias afetadas, mas não a medicação que impede que a artéria volte a fechar. Resultado: em poucos meses o paciente volta a ser internado para receber outro stent e o custo direto da nova hospitalização é muito alto, mesmo sem considerar o prejuízo social resultante da perda dos dias de trabalho, que também acabam pesando ao governo, já que são pagos pelo INSS.

Para os cardiologistas que vivem o dia-a-dia dos prontos-socorros e hospitais, o que falta é “PREVENÇÃO”.

Cansamos de ser chamados a inaugurações de hospitais, cuja construção dá votos, mas que seriam desnecessários se mais fosse investido na prevenção e no acompanhamento dos doentes. Eles voltam para as favelas tão desassistidos e sem orientação como, no passado, voltava a criança subnutrida que, depois de alimentada com soro, era devolvida ao mesmo sistema de vida que a tinha tornado raquítica.

Hospital é a última instância a ser procurada; é urgente a organização de uma rede ambulatorial capaz de dar suporte às doenças crônicas, é urgente um plano de redução dos fatores de risco geradores dessas doenças. A crise dos hospitais é reflexo da falta de ambulatórios e de logística para acompanhar esses pacientes.
 
O Brasil tem todas as condições para prevenir as doenças cardíacas, para identificar e tratar dos hipertensos, o que é extremamente barato, para identificar quem tem alto índice de colesterol e oferecer medicação para baixá-lo, para combater a obesidade que se torna epidêmica. A resposta são programas como o “Saúde da Família” que precisa ser incentivado.

Para dinamizar esses programas de prevenção, entretanto, é preciso maior financiamento da Saúde no Brasil, pois dar saúde custa dinheiro. Não é necessária uma imensidão de recursos, o que é vital é a melhoria da gestão dos recursos atualmente disponíveis. Da mesma forma que o adágio recomenda que “não se dê o peixe, mas se ensine a pescar”, em Medicina, o importante não é só “curar a doença, mas evitar que a pessoa adoeça”.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia reitera que o Brasil tem todas as condições para reduzir drasticamente as mortes por cardiopatias e para evitar que, no futuro, quantidades imensas de dinheiro sejam despendidas em procedimentos que poderiam ter sido evitados com prevenção adequada. Em nome de 11 mil cardiologistas com vivência dos problemas de saúde de todos os Estados brasileiros, a SBC está disposta a colaborar para acabar com as falhas do atendimento cardiovascular. Nada queremos receber em troca, além da satisfação de saber que, finalmente, os brasileiros vão parar de morrer por causas evitáveis com um pouco de investimento e cuidado.... antes que a cardiopatia se instale.

Prezados candidatos à Presidência, estamos gritando por socorro em nome das milhares de vítimas de doenças cardiovasculares que morrem ou têm sua qualidade de vida comprometida. Estamos oferecendo toda nossa massa crítica de especialistas e instituições para sugerir e implementar políticas públicas para controlar as novas epidemias – as doenças cardiovasculares.


Jorge Ilha Guimarães
Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia

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